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Professor Rodrigo, o papa títulos da base: 46 troféus em 13 anos

O jogo era tenso. De um lado estava o time dono da casa, do torneio, da arquibancada lotada e da melhor campanha na competição. Do outro, um legítimo franco atirador, que havia chegado às quartas de final do Mundialito com apenas dois pontos na primeira fase, agarrando a última vaga nesta fase. Era metade da segunda etapa e os desafiantes do São José tiveram a única chance em toda a partida. Falta cobrada por Alexandre Bareta. A bola ainda bateu na trave, nas costas do goleiro do Academia Tahuichi, da Bolívia, e entrou com certo sofrimento. A vitória colocava o Zeca entre os quatro melhores da competição.
Do banco, naquele momento o técnico Rodrigo Santos da Silva teve a certeza de que algo especial estava para acontecer. Depois, aqueles guris da categoria Sub-15 ainda derrubariam o Florida _ também da casa _, a LDU e o Millionarios para erguer o troféu mais importante da história das categorias de base do clube, O segundo título internacional do São José. A certeza de que o feito estava gravado na história só veio à cabeça do Rodrigo quando desembarcou com a delegação em Porto Alegre e deparou com um aeroporto lotado, como verdadeiros astros do futebol gaúcho.
"Eu ainda me emociono só de lembrar desse dia. Carrego no coração esse reconhecimento", diz o treinador.
PAPA TÍTULOS - Aos 34 anos, Rodrigo coleciona alguns apelidos pitorescos. Alguns o chamam de Alex Ferguson da base, outros garantem: ele já ganhou mais que Messi. Uma certeza, ao menos, já se tem. Rodrigo Santos da Silva é o maior papão de títulos das categorias de base no Estado. Em 13 anos trabalhando no São José, coleciona 46 títulos. É tanta taça que, para falar delas, ele precisa percorrer cada canto do Passo d'Areia e, por que não, vasculhar também nos arquivos da memória.
"É claro que, nas categorias de base, é importante formar atletas e bons cidadãos. Mas eu sempre digo para os meus atletas que, quem vence, sempre vai ser mais lembrado. Vai ter mais chances de ganhar oportunidades. Eu gosto de vencer por merecimento, e passo isso a eles sempre", conta.
Entre os meninos da base do Zeca _ ele já treinou desde o Sub-11 até o Juvenil _, apesar de ter apenas 34 anos, Rodrigo é como um paizão mesmo. Não do tipo que passa a mão na cabeça. Sim, isso ele também faz, mas também recolhe celulares, cobra os resultados escolares e o cumprimento das regras dentro do clube.
"Comigo, jogador de boné e brinquinho não joga", resume.
É, certamente, resultado do seu histórico precoce como treinador.
NA COHAB - Uma trajetória que começou aos 16 anos, quando era presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Grande Oriente, no Bairro Rubem Berta. Foi no campo careca da Cohab Rubem Berta que a vocação floresceu. Montou o time da escola pública e encarou uma competição estadual. Resultado: levou o único time com essa origem aos mata-matas do Guri Bom de Bola. Era só o pontapé inicial deste goleiro frustrado.
"Eu me dou muito bem com os atletas. Tem guri que fala comigo o que não fala com os pais. É uma questão de confiança, de abordagem. De alguma maneira, conseguimos entrar na mente deles e conseguir que desenvolvam bem os talentos deles", diz.
O papão de titulos da base sonha em treinar um time profissional? Claro que sim, mas, como ele mesmo diz. Tudo ao seu tempo:
"Acho que estou galgando passo a passo. Agora, estou aprimorando meus conhecimentos. Quero crescer na profissão".
Enquanto isso a contagem não para. Entre o ano pasado e o começo de 2017, Rodrigo ergueu os troféus do torneio de Paranavaí, da Encosta da Serra, do Mundialito e de Maravilha. Sim, ainda vem mais em 2017. Quem duvida, é louco.

(Imagem: Divugação/Esporte Clube São José)

Neymar? Não, aqui é Zeca
Em 2006, fazia três anos que Rodrigo havia chegado às categorias de base do São José. Comandando a categoria Sub-14, ele foi a Caçador disputar um torneio nacional. O Zeca cresceu na competição e chegou na final, quando teria de encarar o Santos com ninguém menos que Neymar no ataque.
"O guri era muito habilidoso e todos sabiam disso. Fiz de tudo para marcar ele o jogo inteiro", lembra.
E a gurizada conseguiu fazer isso por praticamente todo o jogo. O São José vencia por 1 a 0 até os minutos finais da partida, quando Neymar conseguiu uma escapada e empatou a partida. Era o fim? Nada. O papão de títulos estava no lado do Zeca.
O jogo foi para os pênaltis e justamente Neymar errou a cobrança decisiva, dando o título para o São José.

O primeiro estadual
Em 2009, Rodrigo assumiu o time Sub-11 do São José. Na primeira fase do Estadual, a campanha não foi nada empolgante. Faltavam poucas rodadas e o Zeca ocupava a nona posição, entre 11 times que brigavam por seis vagas. No fim, a classificação veio. E aí a estrela do técnico brilhou à frente dos pequenos. Primeiro, ganhou os dois jogos contra o Juventude, eliminando o clube de Caxias do Sul. Depois, na semifinal, a gurizada passou pelo Inter nos pênaltis. A final foi contra o Vila Nova, de Passo Fundo. Depois de um empate no Passo d'Areia, eles buscaram o primeiro título estadual das categorias de base do São José na casa dos adversários.

O sonho e o título no Mundialito
O caminho até a final na Bolívia, em janeiro deste ano, foi turbulento. Até a última partida diante do Millionarios, da Colômbia, a equipe já era 70% diferente daquela que iniciou a competição. Eram lesões e até doença de alguns meninos do time Sub-15. E mesmo assim os comandados de Rodrigo Santos da Silva chegaram à decisão. Na noite anterior àquele jogo, o técnico teve um sonho premonitório.
"Não sou de dar muita bola para esse tipo de coisa, mas quando vem, tem que levar à sério. Vieram na minha cabeça o número 18 e a camisa branca do Zeca", lembra.
Pois os meninos entraram em campo para o jogo decisivo com as camisetas quadriculadas. Redinha, o camisa 18, começou no banco. E o primeiro tempo do São José foi irreconhecível. Diante de um time fisicamente superior, o Zeca sofreu 2 a 0 nos primeiros 40 minutos. Os meninos foram para o vestiário arrasados.
"Pareciam estar prontos para levar 4, 5 gols. Não podíamos terminar assim aquela campanha. Não podíamos", desabafa.
Foi quando os jogadores levantaram para voltar ao campo que Rodrigo os segurou e deu a ordem para trocarem as camisas. As brancas estavam nos cabides. Ninguém entendeu muito bem, mas quem questionaria o treinador àquela altura?
Aos seis minutos, Luís Henrique diminuiu de cabeça. Rodrigo olhou para Eduardo Guly, um dos seus auxiliares e sentenciou: "Vou botar o Redinha aos 34, e vamos empatar esse jogo".
Aos 30, mudou de ideia. Botou logo o menino com a camisa 18 em campo. E não é que aos 34 o Redinha passou a dribles pela defesa colombiana até ser derrubado em frente à grande área. Luís Henrique cobrou e empatou o jogo. Título para o Zeca.
Podem dizer o que for, o Rodrigo não chama de milagre. Mas também não duvida do que viu antes do jogo.

O descobridor de talentos
É claro que alguém com tantos anos à frente dos times da base do São José tem no seu currículo a revelação de alguns talentos. Antes de chegar ao Zeca, porém, o papão de títulos revelou dois grandes nomes a partir da Cohab Rubem Berta: Eduardo Sasha e Anderon _ ambos atualmente no Internacional.
"No Rubem Berta, o Anderson era o Pelezinho. O menino jogava demais. E o Eduardo, na verdade, era o irmão do Xuxa, que jogava bem mais que ele, mas não vingou. Como era irmão do Xuxa, eu inventei um apelido para ele, o Sasha, e pegou", brinca.
Rodrigo tinha menos de 21 anos. E, como responsável pelos meninos, os levou ao Monteserrat. Foi dali que partiram para a dupla Gre-Nal. Quando Anderson foi jogar em Portugal, retribuiu o favor do amigo. O levou para lá. E foi então que Rodrigo começou a se qualificar teoricamente como treinador.

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