O cronômetro marcava 48 minutos, nos acréscimos do segundo tempo. O São José vencia o Novo Hamburgo por 1 a 0, gol marcado somente aos 40 do segundo tempo em jogo pela oitava rodada do Gauchão do ano passado. O clima no Estádio Passo d'Areia ainda era de tensão. Tatava-se de um clássico metropolitano em ritmo intenso. Eis que o meia Clayton arrancou ainda do campo defensivo e, literalmente, atropelou os marcadores. Carregou a bola até a grande área e só teve o trabalho de servir ao meia Diego Torres, que completou para o gol que decretaria mais uma vitória.
No banco de reservas, havia gente talvez mais contente do que os torcedores. Era a equipe da preparação física e fisioterapia, os homens que fazem o Zeca voar em campo.
"Era um sentimento de dever cumprido", conta o preparador físico Leonardo Fortino.
Pois nesta temporada de 2017, ele, os fisioterapeutas Vasyl Saciura e William Goulart, além do auxiliar de preparação física, Matheus Kihs, prometem um rendimento ainda mais surpreendente. E com um reforço de seleção. Os jogadores do São José passaram por uma bateria de avaliações funcionais, de força e fleximetria em parceria com o Grupo de Ciências no Esporte e Avaliação, do professor Bruno Baroni, nas instalações da Faculdade de Ciências Médicas.
DE SELEÇÃO - "É um trabalho diferenciado, que nos permite uma visão individualizada da situação física de cada atleta. Não basta trabalharmos no campo, fazermos as nossas avaliações sem o apoio da ciência. O resultado nós veremos na prevenção de lesões e na garantia de conseguirmos o melhor desempenho de cada atleta", explica o Vasyl.
O método é o mesmo que só passou a ser aplicado na Seleção Brasileira há dois anos. Nos clubes de ponta do Brasil também é uma realidade. Já entre os clubes que disputam o Gauchão _ à exceção da dupla Grenal _, o São José é inovador. A avaliação foi feita durante a pré-temporada e é possível que, durante as competições, alguns atletas passem por novos exames. A ideia é de que os atletas das categorias de base também recebam esta atenção.
"Nosso foco é sempre trabalhar individulamente com cada atleta, e com muita intensidade e funcionalidade. Não temos o dia de treinamento na academia. Tudo o que fazemos é voltado para a funcionalidade do movimento. O trabalho físico vem junto com o trabalho técnico. E o nosso sistema de jogo exige esse ritmo", explica Leonardo Fortino.
ASSUSTA - E tudo vai parar nas planilhas dessa equipe, em forma de gráficos.
Enquanto o preparador "mete a pressão" para garantir intensidade física dos jogadores, o fisioterapeuta monitora das reações de cada atleta para evitar lesões. Se o resultado é um time que corre e marca o campo inteiro durante os 90 minutos, as leões são mínimas. E o Fortino garante que o sistema já vem assustando muito boleiro. Houve casos de recusa em ficar no clube.
"Quem não está acostumado, assusta e, se não se adaptar, fica para trás mesmo. Porque aquele conceito de que se puxa muito no trabalho físico durante a pré-temporada e depois relaxa é que faz faltar perna lá na frente. ", resume o preparador.
E valoriza:
"Todo esse trabalho é baseado em conceitos, em estudo dos movimentos. Não tem lugar mais para achismo no esporte. E nós queremos o alto rendimento, é para voar em campo mesmo".
(Imagem: Divulgação/Esporte Clube São José)